quarta-feira, 22 de julho de 2020

VIDA E TEMPO


A vida é feita do pulsar do sangue, de emoções fluidas  e de um olhar ao sol!
Obrigado ao tempo e ao espaço, categorias existenciais que são presentes de Deus, são amarras necessárias da vida, portos seguros que exigem de nós, seus filhos, um aprendizado constante, cujo mistério e desafio devem ser degustados, serena e continuamente, com sabedoria!

Por aqui vou vivendo e fazendo o que amo: estar com a minha família e com os meus livros!

O que mais gosto? Estar com a minha família, ler no meu kindle e escrever todos os dias!

Obrigado Deus, obrigado vida, pois sou e estou aqui!

sábado, 20 de junho de 2020

A ÁRVORE DE NATAL NA CASA DE CRISTO - DOSTOIÉVSKI


Fiódor Dostoiévski, Moscou, 11/11/1821 - São Petersburgo, 09/02/1881


Um belíssimo e instigante conto do grande escritor russo. 

Trata-se de uma sutil e incisiva crítica ao stablishment, válida para todos os tempos!

A ESFINGE SEM SEGREDO - OSCAR WILDE


Oscar Wilde, escritor, poeta e dramaturgo irlandês
16/10/1854 - 30/11/1900


Da obra de Oscar Wilde, esse interessante conto perscruta acerca do que faz o homem se enamorar de uma mulher.

Será o encanto de seus mistérios?


O NÚMERO DA SEPULTURA - LIMA BARRETO


Afonso Henriques de Lima Barreto 13/05/1881 - 01/11/1922


Da obra de Lima Barreto, célebre autor do romance Triste Finde Policarpo Quaresma, o conto intitulado O número da sepultura retrata a rotina de um casamento, mas que um sonho e a peripécia da esposa, enquanto o marido está ausente de casa, vai dar um novo alento à monotonia dos costumes do início do século XX.

Às Vezes é preciso arriscar!

sexta-feira, 19 de junho de 2020

NOITES BRANCAS - DOSTOIÉVSKI


Obra de Fiódor Dostoiévski, publicada em 1848

Li e gostei!

Noites brancas, título que remete a uma paisagem decorrente de uma variação climática que ocorre durante o verão de São Petersburgo, demonstra a genial capacidade do autor em conciliar sonho e realidade. A cidade de São Petersburgo está situada ao norte da Rússia.
 
A obra, escrita antes da prisão de Dostoiévski, é a que mais aproxima o autor do gênero romântico. 

As personagens do conto, com características psicológicas muito bem construídas, tecem a trama do amor, a partir do relacionamento entre um homem, de aproximadamente 26 anos (sonhador, tímido, solitário) com Nástienka, uma jovem e bela moça, também romântica e sonhadora, cuja descrição revela a sua tenra idade, 17 anos.

O desenrolar dessa bela história acontece ao longo de quatro noites, em que se estabelecem os encontros e diálogos do jovem casal. 

A primeira noite, em que o rapaz se aventura, saindo de casa, revela uma característica própria do amor, que é a desinstalação. Não ama aquele que tem medo de sair de si e se aventurar. O amor é uma aventura! Para que haja o amor deve haver um movimento dinâmico de saída de si e abertura para o outro. Na história do escritor russo, que se desinstala, quem sai de casa em noites brancas pode até, quem sabe, encontrar uma donzela pranto, ávida para ser consolada.  

A tentativa de conter as lágrimas da donzela dá início a um envolvimento sentimental do rapaz, mas que, por fatos que não revelarei aqui, para não haver spoiler e você, leitor, se movimente para ler conhecer essa fascinante história, visto que ela implica num amor não correspondido, não tendo sucumbido à tentativa de um subterfúgio, fato que, em relação ao amor, isso é impossível, pois o amor é pessoal e exigente de fidelidade.

Vale muito a leitura dessa instigante história, visto que ela remete à condição da ocorrência natural do amor que pode ser acontecer de fato ou apenas através da luz de um sonho, mas que merece ser vivido, pois representa um valor humano que, necessariamente, nos tira da zona de conforto, oferecendo o prêmio de sair da solidão. 

Ao final, sabe-se, o amor, por si, sempre valerá a pena ser vivido, pois é o sentimento que nos desinstala e nos remete a uma grande aventura, que pode ser prazerosa ou não.

Apesar de qualquer coisa, sempre deve-se dizer: viva o amor, viva a vida!

quinta-feira, 11 de junho de 2020

A REVOLUÇÃO DO AUTOCONHECIMENTO E O FILME “...E O VENTO LEVOU”: RACISMO, MÍDIA E MANIFESTAÇÕES



O racismo, de fato, é um tema muito triste de se tratar, pois remete a um outro tema tão triste quanto: nós, os homo sapiens, verdadeiramente, não evoluímos, como até há pouco pensávamos, quando nos vangloriávamos do iluminismo, positivismo, cientificismo, etc.


Talvez por isso que o movimento romântico, dos séculos XVIII e XIX, deveras estava certo, senão pelos meios, onde alguns extremistas somente encontraram saída em vícios, suicídios, derrotismo, etc., mas principalmente pelo resultado, quando, despretensiosamente, mas de forma categórica, acertaram em cheio acerca da derrocada do extremismo racionalista, fato cabalmente escancarado pela ocorrência das grandes guerras mundiais, das crises econômicas, dos holocaustos e apartheids de todo gênero, ainda durante o século XX.


Mas… o século XX não foi suficientemente capaz de destronar o pessimismo na evolução da espécie humana!


Ora, se a evolução se deu no nível biológico, para fins de adaptação da espécie, ante as intempéries do meio ambiente e ameaças à reprodução e sobrevivência, verifica-se, inconteste, que diante da celeuma e manifestações que envolve o tema do racismo nos EUA, a tal pretendida evolução ainda não aconteceu no nível sociológico, particularmente, a meu ver, no que concerne ao autoconhecimento.


Nesse aspecto, ouso afirmar que, não obstante as revoluções cognitivas (há 70 mil anos), agrícola (há 12 mil anos) e científica (há 500 anos), ainda estamos engatinhando na história, e precisamos de uma nova revolução, a revolução do autoconhecimento e da autoestima, pois somente assim poderemos, de fato, aceitar o “diferente” e vencer o preconceito e a discriminação, recepcionando a diferença, não como uma ameaça à própria sobrevivência, mas como um valor agregado.


Em verdade, triste é afirmar que, ante a essa luta por espaços decorrentes da aversão racial, demonstrado está, cabalmente, que ainda estamos no tempo dos neandertais.


Os neandertais da pré-história, considerados desafetos dos sapiens, foram substituídos pelos neandertais de hoje, igualmente alvos de preconceitos,  justamente por serem considerados os "diferentes" de nós, os sapiens, em pleno século XXI. 

Os neandertais de hoje, discriminados por todos os meios, somos todos nós, diante de cada situação específica, de forma sorrateira e discreta, às vezes escancarada, discriminados somos nós de todas as cores, os negros, os brancos, os amarelos, os morenos, os verdes, os vermelhos, os latinos, os orientais, os índios, os nordestinos, os gaúchos, os nortistas, os paraguaios, os argentinos, os bolivianos, os venezuelanos, os judeus, os muçulmanos, os cristãos, os favelados, os pobres, os ricos, os de direita, os de esquerda, as mulheres, os gays e todos os LGBTTs, as crianças, os idosos, os vizinhos, os que pensam diferente, as outras espécies animais, etc. A lista não tem fim, e basta observar para nossa ignóbil autocompreensão e autoconhecimento para, de pronto, eclodir o sentimento de aversão, repúdio e preconceito.


Por quê tanta aversão, repúdio e preconceito contra o diferente? Será por medo? 


Na Bíblia, a imagem que representa a ameaça que causa o medo é a água. Talvez, por causa do medo das pessoas que Jesus andou sobre as águas e proclamou ao mundo: "Não tenhais medo!" (Mt 14, 27) e noutro momento disse: "Eu vim para que tenham vida, e tenham em abundância" (Jo 10,10). Sem medo, sem preconceito; sem preconceito, vida plena!


O fenômeno do preconceito, da discriminação e do racismo é um fenômeno geral? Insisto na esperança de acreditar que não, mas não fecho os olhos para enxergar que a falta de educação, de valores e a existência da liquidez baumanariana assolam e determinam, cada vez mais, as percepções e relações entre as pessoas.


É sabido que por onde o sapiens andou ele andou destruindo tudo o que viu. Talvez essa visão seja pessimista demais, contudo já houve quem, antes de mim, considerasse o ser humano como um vírus1; outros, como Norberto Keppe2, afirmam que o ser humano possui uma atitude destruidora em relação aos entes próximos, a ele mesmo e ao meio ambiente, expressando um sentimento de inveja a tudo o que é naturalmente bom, belo e verdadeiro. Talvez, disso decorram as mais variadas formas de preconceito, que atentam contra a dignidade dos “diferentes”.


A recente matéria, da Revista Veja3, intitulada “… ‘E o vento levou’ é retirado de streeming após campanha antirracista”, denuncia, de forma subliminar, o quanto as pessoas não estão aptas à convivência com o diferente, por vários motivos, dentre os quais destaco o seguinte: a incompetência que se tem de ler os fatos históricos no contexto em que eles aconteceram. Isso vale para todos os eventos históricos, sem exceção: Não se deve interpretar o fato histórico fora do seu contexto!


O racismo aconteceu? Sim, aconteceu como fenômeno histórico e ainda acontece, para a vergonha de todos! 


Temos que aprender com a história para não repeti-la. Isso é óbvio, desde os tempos em que, quando crianças, aprendemos com os nossos pais, no mais das vezes através de palmadas, que determinados atos errados não devem se repetir. Meus pais nem precisavam falar muito, quando bastava o olhar para que entendêssemos que alguma coisa estava errado e que não deveríamos repetir, senão…, já sabíamos! Desde cedo, portanto, nós aprendemos que coisas erradas não se deve repetir. Isso é aprender com a história!


Conforme relata a matéria da citada revista, a fala do diretor da HBO MAX (streeming que disponibiliza a película estreada em 1940), insinua que a compreensão acerca da história, no caso o filme, precisa, veementemente, ser adequada ao contexto próprio!


Entretanto, celeumas à parte, o filme, uma vez contextualizado, é obra-prima da sétima arte, ganhador de várias estatuetas do Oscar e merece ser assistido por todos.


Mas o fato, noticiado pela reportagem, caricatural na performance, revela e levanta a bola do politicamente correto, até na censura da arte. O fato merece, sim, a nossa crítica quanto a questões de ordem política, com “p” bem minúsculo, e interesses que correm paralelamente, notadamente quanto às recentes manifestações antirracistas nos EUA.


Para o bem da verdade, não se pode desprezar acerca do que, como pano de fundo, se pretende nessa dinâmica onda midiática, muito parecido como é tratado, aqui no Brasil, o caso do brutal assassinato da vereadora Marielle.


O que se vê, nesse estardalhaço midiático é de todo uma tentativa, infelizmente, em muitos casos, bem-sucedida, de manipular consciências, em vista a uma possível associação do fato negativo aos governantes, estes com posição ideológica contrária ao interesse dos detentores do 4º poder.


Portanto, muito filtro e senso crítico ao apelo da parafernália midiática! 


Dessa forma, eles, os detentores do 4º poder, matam dois coelhos com uma só cajadada: de um lado as manifestações abarrotadas de pretensos “baluartes defensores das causas justas”, servem de massa de manobra para esquerdistas que visam emplacar uma crise social e política no país, fato que se agrava ainda mais quando se atravessa uma pandemia, levando à opinião pública uma falaciosa associação  do tipo: governo "tal" implica em racismo; governo "tal" implica em ditadura; governo "tal" implica em violação dos direitos humanos; etc.


Por óbvio, o racismo é tão nojento e abjeto como também o é tais interesses escusos, visto que sinaliza para o fato de que ainda vivemos na idade da pedra, quando não aceitamos, seja por covardia, medo, incompetência ou mesmo pela não aceitação de si próprio, aquilo que se nos aparece como “diferente”, para então resolvermos pelo extermínio do outro que não se mostra a nós como espelho, máxime, quando esse espelho reflete uma imagem distorcida ou colorida com tintas partidárias!


Tal recurso é corriqueiramente utilizado como pretexto da exclusão, desde a extinção dos neandertais! No fundo, é tudo disputa pelo poder! 

Que vençam os discriminados e as vítimas do racismo!


Evoluamos, estudemos e brademos: viva ao pensamento livre, sem manipulação!


Para finalizar, aprendamos com Kant: 

A inumanidade que se causa a um outro destrói a humanidade em mim”.


1Disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/o-homem-e-um-virus/, acessado em 11/06/2020.


SOBRE HEIDEGGER, O FILÓSOFO


Martin Heidegger, após o doutorado, tornou-se professor universitário de filosofia (Universidades de Marburgo e Freiburg), cujo labor rendeu-lhe, também, o ofício de escritor.

Nascido em 26 de setembro de 1889 na cidade de Messekirch e falecido em 16 de maio de 1976 em Friburgo, região da Floresta Negra, na Alemanha, viveu de forma intensa e profícua seus anos de vida, dedicados quase que exclusivamente à vida intelectual, marcadamente submissa às condições históricas de seu tempo e lugar.

A vida do filósofo, a deduzir pelo rigor de suas obras, poderia ensejar a uma possível monotonia, quando, pelo contrário, mostra-se recheada de fatos curiosos, dentre os quais destacamos alguns.

Conforme Giacóia Jr. (2013, p. 15), Heidegger teve rigorosa formação religiosa junto à Companhia de Jesus (Jesuítas) onde iniciou seus estudos, chegando a graduar-se, pela Universidade de Friburgo, em teologia e filosofia, em preparação ao sacerdócio, mas que, no entanto, em virtude de problemas relacionados à saúde, desligou-se desse intento para se dedicar integralmente à filosofia e à vida acadêmica.

Um fato, por dizer, inusitado e que, à primeira vista, possa ser interpretado como absurdo, mas que consta da biografia do filósofo, é que ele esteve vinculado, por algum tempo, ao partido nazista de Hitler, tendo inclusive sido nomeado como reitor da Universidade de Friburgo, mas que, em decorrência de uma possível pressão da comunidade acadêmica, ele teria, pouco tempo depois, se demitido do cargo, conforme descrito pelo professor Oswaldo Giacóia Jr.:

O envolvimento político de Heidegger se reflete no discurso da reitoria, proferido na solenidade de sua posse. Nele, o filósofo coloca em estreita relação a missão da universidade, da ciência e da cultura e o destino político e histórico do povo alemão. Em abril de 1934, Heidegger demitiu-se do cargo de reitor, em virtude de desentendimentos com colegas acadêmicos e divergências com as autoridades governamentais. Já nessa época, nota-se em seus escritos o afastamento crítico do nazismo, como em ‘Superação da metafísica’, coletânea de textos redigidos entre 1934 e 1946. (GIACÓIA JR., 2013, p. 17)

Outros fatos há na vida desse intrigante filósofo, não menos curiosos, mas, desta feita, entendidos como positivos. Um deles é que ele foi aluno e recebeu bastante influência de Edmund Husserl, filósofo criador da fenomenologia, tendo, inclusive, homenageado o mestre com uma dedicatória: “em testemunho de admiração e amizade” (HEIDEGGER, 2012, p. 5).

Entretanto, quando o homenageado teve contato com a obra Ser e Tempo ele teria afirmado que o autor daquela obra teve uma má compreensão do que tratava a fenomenologia, como assinala Cerbone: “Na perspectiva de Husserl, Heidegger tinha abandonado inteiramente as aspirações fenomenológicas de levantar e responder questões transcendentais para se tornar uma ‘ciência rigorosa” (CERBONE, 2013, P. 66)

O outro fato curioso na vida de Heidegger é que ele teve como sua aluna a renomada escritora e também filósofa judia Hannah Arendt, o que, de certo modo, mitiga, um pouco, os desvarios com o partido nazista alemão.

Tais curiosidades acerca do filósofo servem para nos remeter ao contexto de sua experiência de vida e formação intelectual, cujo constructo teórico, criticamente avaliados, revelaram apenas aspectos positivos, não tendo sido demonstrado nenhuma influência maléfica no trabalho intelectual que desenvolveu, tendo sido, de acordo com Rüdiger Safranski o autor cuja obra teve o maior número de análises e interpretações publicadas neste século” (SAFRANSKI, 2000, p.507).

Heidegger também foi intelectualmente influenciado por outros importantes pensadores como Kant, Dilthey, Nietzsche e Kierkegaard, dentre outros, revelando que essas fontes contribuíram para inspirar sua produção acadêmica e torná-lo um grande e original pensador.


Referências:

 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5ª Ed.-São Paulo: Martins Fontes, 2007.

 CERBONE, David R. Fenomenologia. Tradução de Caesar Souza. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006  

 GIACOIA JR., Oswaldo. Heidegger Urgente: Introdução a um novo pensar. São Paulo: Três Estrelas, 2013.

HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. 7ª Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

 SAFRANSKI, Rüdiger. HEIDEGGER: Um mestre da Alemanha entre o bem e o mal. São Paulo: Geração Editorial, 2000. 

SOBRE O AUTOCONHECIMENTO


O ser humano é o ser que por essência busca conhecer. O objeto, a ser conhecido, deve antes ser indagado e espraia-se desde o macrocosmo (o infinitamente grande) até o microcosmo (o infinitamente pequeno), encontrando-se, entre esse vasto campo do conhecimento, justamente esse ávido indagador, que é o ser humano (o infinitamente complexo).

As ciências e outros saberes da cultura, como a arte, a religião, o exoterismo, e o senso comum se esforçam em apresentar as respostas em todos os ramos do conhecimento, mas é, por excelência, na filosofia, que as perguntas são elaboradas. 

De certo modo, lato sensu, em face do seu aparelho sensorial, todo ser humano torna-se filósofo ao se por na condição de espanto e admiração diante do ser, visto que é impossível ver, cheirar, ouvir, tocar, saborear sem perguntar “o que é?” e o “por quê?”. 

Logo, pode-se dizer: o conhecimento é fruto da indagação que advém do espanto e admiração, em face dos recursos sensoriais.

E as indagações não cessam, pois são infinitas e insistentes, visto que é próprio do ser humano a insaciabilidade intelectual. O ser humano é um exímio produtor e consumidor de conhecimento, o que pode ser ilustrado pela imagem de um ser que, diuturna e incansavelmente, reluta em cutucar a abóbada do templo do conhecimento, na esperança de encontrar ranhuras e frestas, em busca de algo novo, uma nova luz que possa clarear e possibilitar soluções sobre os mais diversos problemas.

Dentre tantos problemas que esperam ser solucionados, entre os quais, se destacam também aqueles internos, que remetem à própria identidade, à origem e o porquê do ser e existir, na busca dos caminhos percorridos e os a percorrer, como também aqueles que remetem à busca do sentido da finitude ou da morte.

O autoconhecimento é uma palavra que se explica por si só, no entanto o processo de autoconhecer-se exige uma reflexão um tanto quanto profunda.

O filósofo alemão Heidegger, em sua filosofia existencialista, buscou compreender o sentido da vida e do ser a partir do ser humano, cuja essência é existir, no sentido da aptidão impreterível e necessária para sair de si e projetar-se, não no sentido espacial, mas no sentido temporal e psicológico, cujo instante seguinte tanto será aquele indubitavelmente propício para a realização do ser, fulcro da esperança, quanto essa decisão existencial de sair-se for autêntica, na estrita conceituação heideggeriana.

Segundo os dicionaristas Houaiss e Villar, autoconhecimento é o “conhecimento de si mesmo, das próprias características, sentimentos, inclinações etc.” (HOUAISS e VILLAR, 2001, p. 349).

Para Heidegger, no entanto, o autoconhecimento significa e implica em muito mais do que a simples semiótica gráfica. É possível extrair de sua filosofia, ainda que este não tenha sido o foco do filósofo, que o autoconhecimento implica em se colocar, de forma autêntica, na busca do sentido do ser, não apenas do ser das coisas, ou do ser dos outros, mas, sobretudo em busca do ser de si mesmo, posto que ele foi lançado ao mundo (Presença/Dasein/Ser-aí/Ser-no-mundo) e não tem receita alguma acerca de como é ou de como será essa interação, mas que, para verdadeiramente ser, ele deve se arriscar, se projetar, construindo suas próprias razões, seu modo de ser, pois, sem isso, não existirá, de fato.

Referências:

 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5ª Ed.-São Paulo: Martins Fontes, 2007.

HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. 7ª Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.


GARGALOS LOGÍSTICOS NA DISTRIBUIÇÃO DE SUPRIMENTOS DURANTE O PREPARO E O EMPREGO DA MOBILIZAÇÃO NACIONAL


1. INTRODUÇÃO

Independente do tipo de estratégia adotado para distribuir ou mobilizar observa-se que todas as atividades da cadeia logística podem ser caracterizadas como “gargalos”.

Portanto, “Gargalo” é a parte mais lenta da cadeia e embora ele possa ser na maioria das vezes, uma máquina, pode também ser uma parte do fluxo de informações, como o processamento de um pedido.

Deve-se destacar que o gerenciamento do pedido requer a ligação entre o sistema de informação do pedido e o fluxo físico de materiais ou produtos para atender a demanda.

O bom desempenho da logística ou mobilização concernente a distribuição constitui a principal estratégia para minimizar o fenômeno da ampliação da variedade da demanda.

Vale dizer que quanto maior a variedade de alguma coisa maior será a sua visibilidade e, portanto, maior será a ocorrência de gargalos logísticos que impactam a distribuição logística.

Para o maior desempenho dos serviços logísticos torna-se necessário a determinação de um conjunto de variáveis e atributos característicos dessas operações, razão do propósito maior a ser apresentado neste artigo.


2. A LOGÍSTICA NACIONAL

A Logística Nacional antecede a Mobilização Nacional e, por isso, deve ser bem planejada, para minimizar ao máximo as dificuldades concernentes à distribuição de suprimentos nas fases do preparo e da execução da Mobilização Nacional.

O Brasil, inserido dentro de uma economia considerada moderna, está incurso na onda da globalização, estando, por isso, suscetível de possíveis crises econômicas mundiais. Embora o País seja detentor de imensos recursos, apresenta uma infraestrutura logística e de mobilização ainda deficientes, representando verdadeiros gargalos para a sua defesa. Dependente de tecnologias estrangeiras, o País tem sua infraestrutura deteriorada, fruto de investimentos insuficientes diante da demanda cada vez crescente.

Do ponto de vista estratégico, o Brasil está inserido como uma economia emergente, num cenário mundial que perfilha caminhos rumo a uma flexibilização da produção, internacionalização dos mercados e integração de economias. Portanto, sob a ótica da Logística Nacional não se deve ter a ilusão de que o País conseguirá tudo o que precisa para atender suas necessidades de desenvolvimento contando apenas com seus próprios meios. Logo, não poderá prescindir de conciliar a aquisição de novas tecnologias no mercado externo sem descuidar do imprescindível investimento no desenvolvimento de sua própria tecnologia.

Um grande desafio a ser enfrentado, do ponto de vista das opções da produção brasileira, é procurar as estratégias eficazes que desloquem o comércio externo brasileiro da extremidade do mercado de “commodity1 para uma posição mais segura de poder competitivo, baseado na vantagem obtida com produtos de maior valor agregado.

As ações concernentes à implantação de uma política econômica de incremento à produção; padronização e nacionalização de material de defesa; controle da balança comercial relativa ao material bélico; e o estímulo à formação de mão de obra tecnicamente qualificada supõem urgentes decisões políticas que visem transformar, oportuna e adequadamente, a estrutura do País para que, em caso de situação de emergência, esteja preparado ao suprimento de suas necessidades.

Portanto, importante se faz compreender que, desde os tempos de normalidade sejam estabelecidos os instrumentos que facilitem a expansão e diversificação das exportações, de modo a garantir a competitividade do Brasil no mercado mundial e, com isso, incrementar e modernizar a produção nacional, possibilitando o seu desenvolvimento econômico. Dessa forma, estando efetivadas as condições para a adaptação da economia nacional ao atendimento de uma situação de Mobilização Nacional, equilibrar-se-á as exigências resultantes dessa Mobilização com o atendimento das necessidades requeridas pelo desenvolvimento nacional.

Dessa forma, durante o preparo da Mobilização Nacional deve-se levar em conta a situação em que se encontra a capacidade econômica do País de desenvolver, produzir, estocar e controlar materiais considerados críticos e estratégicos; definir qual a política de incentivo à produção de pesquisa e desenvolvimento de insumos de energia alternativa; estabelecer qual a capacidade de adequação da infraestrutura viária, em todos os modais; e por fim, definir qual o aporte disponível de comunicação de um modo geral e até para fins militares. Nesse caso e, em face da compulsoriedade e da celeridade exigidas, o País deverá estar preparado para obter os recursos financeiros necessários e suficientes para o emprego das Forças Armadas, cujas ações compreendem desde o incentivo ao financiamento do esforço de guerra até a captação de poupança e tributos extraordinários.


3. A MOBILIZAÇÃO NACIONAL

Segundo a Lei 11.631/2007 considera-se Mobilização Nacional o conjunto de atividades planejadas, orientadas e empreendidas pelo Estado, complementando a Logística Nacional, destinadas a capacitar o País a realizar ações estratégias, no campo da Defesa Nacional, diante de agressão estrangeira”.

O Decreto que a regulamenta, por sua vez, define que “a mobilização nacional é a medida decretada pelo Presidente da República, em caso de agressão estrangeira, visando à obtenção imediata de recursos e meios para a implementação das ações que a Logística Nacional não possa suprir, segundo os procedimentos habituais, bem como de outras necessidades”.

A citada Lei também define que a fase do preparo da Mobilização Nacional consiste “na realização de ações estratégicas que viabilizem a sua execução, sendo desenvolvido desde a situação de normalidade, de modo contínuo, metódico e permanente” (art. 3º).

No mesmo documento, a fase da execução da Mobilização Nacional é “caracterizada pela celeridade e compulsoriedade das ações a serem implementadas, com vistas em propiciar ao País condições de enfrentar o fato que a motivou, será decretada por ao do Poder Executivo autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando no intervalo das sessões legislativas”.

Portanto, a “grosso modo”, a Logística Nacional é a fase anterior à decretação da Mobilização Nacional. Essa fase confunde-se com o preparo da mobilização nacional. Realiza-se eficazmente com o desenvolvimento nacional onde todo o potencial logístico do País é definido, tendo sempre em mente que esses recursos podem ser utilizados numa Hipótese de Emprego das Forças Armadas.

A Logística Nacional busca atender as necessidades, suprindo e utilizando os estoques existentes, mediante as aquisições de rotina. Uma vez decretada a Mobilização Nacional é importante saber em quanto a Logística Nacional preencheu o seu devido papel no preparo daquela. De todo o suprimento que a Logística Nacional não conseguiu obter implicará, então, que através dos meios da Mobilização Nacional (identificação das empresas fornecedoras; adequação das instalações como escolas, hospitais e outras acomodações, adaptadas ou modificadas; edição de legislação apropriada) os suprimentos venham a atender todas as necessidades da Mobilização.

Daí considerar-se que todo o preparo da Mobilização Nacional é uma logística, mas nem toda logística pode ser considerada como preparo da Mobilização Nacional. Dessa relação conceitual deriva que o País deve estar alerta para que a Logística Nacional tenha sempre que possível um viés de preparo da Mobilização Nacional, uma vez que, quando da necessidade do emprego, poderá não haver tempo para mobilizar os suprimentos necessários.


4. A INDÚSTRIA DE DEFESA NO BRASIL

A Estratégia Nacional de Defesa2 preceitua que o País deve “capacitar a base industrial de defesa para que conquiste a autonomia em tecnologias indispensáveis à defesa” e que ela “será incentivada a competir em mercado externo para aumentar sua escala de produção”.

Entretanto, historicamente se verifica que o problema da indústria de defesa no Brasil é decorrente de vários fatores. A década de 80, que representa o ápice da indústria bélica brasileira, tendo o País alcançado a marca de 8º País exportador mundial, começou a declinar em decorrência, principalmente, da crise econômica mundial, bem como da significativa redução orçamentária das Forças Armadas, principal cliente desse setor.

A implosão da União Soviética e o fim da Guerra Fria também contribuíram para a derrocada e constante estagnação da indústria brasileira de defesa, que culminaram então com a decretação da falência das maiores empresas brasileiras de material bélico: a Engesa e a Avibrás. Esta última conseguiu se soerguer principalmente pela abertura do seu capital através de um processo de privatização. Hoje, segundo levantamento do Ministério da Defesa e da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial há cerca de 500 empresas que constituem a nossa base industrial de defesa no Brasil3.

Em face do tamanho do território brasileiro e da capacidade bélica que se deseja às Forças Armadas, a quantidade de empresas que constituem essa base industrial de defesa é consideravelmente baixa, havendo imperiosa necessidade de maiores incentivos especiais, principalmente de ordem jurídica, regulatória e tributária destinados a esse importante setor da economia nacional, visando, sobretudo, o desenvolvimento nacional e a independência tecnológica.

Entretanto, os investimentos na Logística Nacional para o atendimento a uma possível Decretação da Mobilização Nacional devem partir de uma visão muito mais ampla da cadeia de suprimentos, uma vez que os serviços logísticos representam apenas uma pequena parcela da contribuição necessária para a consecução de seus objetivos finalísticos.

Para que a Logística aconteça de forma satisfatória serão necessários investimentos que passam por diversas fases, quais sejam: investimentos destinados à ciência, tecnologia e inovação; incentivo ao ensino e à pesquisa nas universidades; o incremento aos centros de pesquisa e desenvolvimento; o apoio às empresas de engenharia para confecção dos projetos; e, finalmente, a consolidação das empresas industriais para fabricação dos equipamentos.

A indústria brasileira de defesa tem apenas uma participação da ordem de 0,1% (zero vírgula um por cento), ocupando apenas a 27ª posição entre os países exportadores de armas convencionais, sendo que os dez primeiros países nesse “ranking” (EUA, Rússia, França, China, Alemanha, Reino Unido, Itália, Espanha, Suécia e Países Baixos) empenham cerca de 90,5% (noventa vírgula cinco por cento) desse mercado conforme dados do SIPRI4. Portanto, a participação do Brasil nesse mercado é muito pífia considerando as pretensões geopolíticas do País.

Ainda, segundo o SIPRI, o Brasil gasta 1,5% (um vírgula cinco por cento) do PIB com defesa, enquanto que outros países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) têm gastos muitos superiores, pois em face de seus respectivos PIBs a Rússia entra com 3,9% (três vírgula nove por cento), Índia com 2,6% (dois vírgula seis por cento) e a China com 2% (dois por cento).

Portanto, é fundamental estabelecer a estratégia para a formação de uma indústria de defesa a partir de algumas diretrizes essenciais, visando a integração do desenvolvimento nacional com o possível emprego em caso de mobilização nacional.

Dentre as medidas a serem implementadas destacam-se: a criação das condições para o desenvolvimento da capacidade industrial de produzir itens de forma eficiente e padrão técnico de referência; o incremento dessa capacidade através de surto industrial a ser implementado quando da Decretação da Mobilização Nacional; e a evolução da capacidade industrial para produção de itens considerados críticos.


5. OS GARGALOS NO ÂMBITO DA PESQUISA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Segundo o CNPq5, no Brasil, 80% (oitenta por cento) das atividades de pesquisa e desenvolvimento estão concentradas no meio universitário, enquanto que em países desenvolvidos esse investimento é feito pelas empresas. Logo, os pesquisadores do Brasil dependem substancialmente dos financiamentos oriundos das notas de empenho vinculadas aos orçamentos públicos.

Superar o “gargalo” logístico nesse setor, tendo em vista a Mobilização Nacional, implica em estimular as seguintes atividades: pesquisa e desenvolvimento (P&D) voltados para a produção de equipamentos e materiais de defesa, de interesse militar e de uso comum das Forças Armadas; P&D de sistema de armas, com tecnologia moderna e, se possível, autóctone; P&D de produtos energéticos alternativos; estocagem de insumos considerados críticos e estratégicos.

É urgente reconhecer que o principal fator para o desenvolvimento do País implica em compreender o conhecimento como insumo estratégico que, por sua vez, possibilita a vantagem de se obter os meios necessários à defesa dentro das próprias fronteiras. Sujeitar-se à dependência tecnológica estrangeira significa contentar-se com o próprio subdesenvolvimento.


4. OS GARGALOS NO ÂMBITO DA INFRAESTRUTURA VIÁRIA BRASILEIRA

Não é demais reiterar que a fase do preparo da Mobilização Nacional se confunde com o próprio desenvolvimento nacional que indelevelmente se acentua quando se trata da infraestrutura viária.

De acordo com a Constituição Federal, é competência da União estabelecer princípios e diretrizes para o Sistema Nacional de Viação. O Sistema Nacional de Viação aprovado pela Lei nº 12.379, de 06/01/20116 prescreve sobre a infraestrutura física e operacional dos vários modos de transporte de pessoas e bens e estabelece as regras básicas para a operacionalidade da estrutura de transportes.

Como simplesmente a edição de um sistema não é suficiente para que as coisas aconteçam, assim como não há melhoria no sistema de transporte sem investimentos e, sem os quais, não há desenvolvimento, há que se propugnar que a vontade política definitivamente operacionalize a implementação de ações concretas para a solução dos problemas viários brasileiros.

Diante as muitas ações para a solução dos gargalos de infraestrutura viária, que afetam significativamente a Logística Nacional onerando o custo da cadeia de suprimentos, destaca-se principalmente a falta de ferrovias, uma vez que o modal carece de uma política de implantação de novas rotas e extensões das rotas existentes, bem como o constante melhoramento das precárias rodovias. Por outro lado as políticas públicas devem começar por uma melhor distribuição entre os diversos modais, o que pode ser feito através de instrumentos fiscais (incentivos), por uma correta inspeção e controle (fiscalização e auditorias) e, ainda, pela exploração econômica adequada (gestão de qualidade).

O País que dispõe de uma malha viária valorizada por trechos estruturados e integrada a entroncamentos multimodais estratégicos terá condições mais favoráveis quando da necessidade da Mobilização Nacional.

De acordo com o boletim estatístico da CNT7, o sistema nacional de transporte rodoviário (estradas, ruas, etc.) possui uma malha de aproximadamente 1.583.331 quilômetros, transportando 485.625 milhões (TKU)/ano8 e 130.323.814 de passageiros/ano. Apenas 12% (doze por cento) da malha está pavimentada e representa a maior parte do transporte terrestre, participando com 3% (três por cento) do PIB brasileiro. Esse modal, segundo a CNT atinge 41,7% (quarenta e um vírgula sete por cento) da movimentação de passageiros e 61,1% (sessenta e um vírgula um por cento) do transporte de carga.

O modal ferroviário é o meio de transporte com elevada capacidade de carga, sendo utilizado basicamente para transporte de minérios e produtos do agronegócio. O óbice existente na malha ferroviária é a dificuldade de sua integração em função da existência de bitolas diferentes, havendo rotas com bitolas de 1,0 metro e outras com bitola de 1,60 metros.

Segundo a CNT9 a malha ferroviária do Brasil, com apenas 30.051 quilômetros de malha, dos quais tem 28.614 quilômetros operadas por concessionárias, transporta cerca de 164.809 TKU/ano, ocupa a 10ª posição no “ranking” mundial. Os EUA ocupam a primeira colocação nessa lista possuindo uma malha ferroviária de 228.464 quilômetros. A Rússia, com seus 87.157 é a segunda, seguida pela China (70.058 km), Índia (63.140 km) e Canadá (48.909 km). Ainda na frente do Brasil estão Alemanha (46.039 km), Austrália (43.802 km), Argentina (34.091 km), e França (32.175 km)10.

O modal Aquaviário ou Hidroviário pode ser utilizado tanto por via fluvial quanto marítima. O tipo fluvial é o transporte utilizado nos rios através das hidrovias para o transporte de pessoas e cargas. O tipo marítimo é o transporte realizado por meio de embarcações para movimentação de passageiros e mercadorias utilizando o mar aberto como via, tanto para transporte de cabotagem, como através de rotas marítimas internacionais. Para transporte de longo curso e cabotagem a frota é de apenas 152 navios11. É saber que 95% (noventa e cinco por cento) do comércio internacional brasileiro é realizado através deste modal, com cifras aproximadas de 230 Bilhões de Dólares em 200612.

O modal aéreo é utilizado basicamente para transporte de passageiros e mercadoria de alto valor agregado e também representa um gargalo em face da pouca disponibilidade de aeroportos. Segundo a CNT o Brasil dispõe de apenas 67 aeroportos, sendo 32 para operação internacional, com registro de apenas 505 aeronaves13.

Existe ainda o modal dutoviário que é utilizado basicamente para o transporte de combustíveis. Esse modal de transporte é efetuado no interior de uma linha de tubos, cujo produto se movimenta através de pressão ou por arraste. Nesse modal quem se movimenta é a carga e não o veículo, o que torna o custo do transporte um diferencial competitivo, em face do baixo manuseio da carga, facilidade na implantação da rede e alta confiabilidade no processamento. De acordo com a ANTT14 em 2008 foram transportados através de dutos 247.631 toneladas de óleo e 10.558 toneladas de gás natural. Em 2007 transportou-se 19.140 toneladas de minérios15. O Brasil precisa investir mais nesse modal.

Em dados apresentados durante conferência proferida na Escola Superior de Guerra o Prof. Gustavo Alberto Trampowski Heck mostra que os indicadores de competitividade em relação ao sistema viário, no Brasil, considerando uma lista de 139 países, ocupa a 123ª posição em relação a portos, 105ª em relação a estradas, 93ª em relação a aeroportos, 41ª posição em relação a Logística e 82ª posição em relação a procedimentos alfandegários.

E acrescenta que, para acentuar ainda mais os “gargalos” na infraestrutura brasileira, os investimentos realizados no setor (eletricidade, telecomunicações, transporte, água e saneamento), em relação ao PIB, caíram nos últimos decênios de 5,42% (cinco vírgula quarenta e dois por cento) para 2,32% (dois vírgula trinta e dois por cento).


4. CONCLUSÃO

A Estratégia Nacional de Defesa (op.cit.p. 26) salienta algumas vulnerabilidades que aqui chamamos de gargalos: o pouco envolvimento da sociedade brasileira nos assuntos relativos à defesa nacional; a constante descontinuação na alocação de recursos orçamentários para a defesa; a barreira tecnológica imposta pelos países desenvolvidos que retardam os projetos tecnológicos estratégicos de concepção brasileira; e a deficiência da infraestrutura logística e de mobilização.

Como assegurar a defesa nacional sem contar com os suprimentos necessários durante a Mobilização Nacional, de modo a assegurar que se tenham forças combatentes bem preparadas?

Uma Mobilização Nacional com o mínimo de gargalos significa dizer que o País precisa de uma economia estável, com uma confiável base industrial, uma eficiente logística e uma qualificada base científica e tecnológica de defesa.

No campo psicossocial há que se criar uma conscientização da população, pois é costume nos países democráticos censurar os gastos realizados com Defesa Nacional, entendendo-os como conflitantes com as exigências dos serviços sociais.

Deve o País começar a repensar o seu modelo de serviço militar. Urge a necessidade de transformar o serviço militar em voluntário, porém remunerado, extensivo às mulheres, com formação específica e direcionada.

Portanto, atestam a fragilidade logística do Brasil vários outros fatores dentre os quais pode-se destacar: 

  • as péssimas condições das estradas no Brasil, o que gera enorme desperdício no momento do transporte e aumento nos custos dos processos logísticos no país; 
  • a falta de silos para armazenamento de grãos em certas regiões; 
  • a falta de modernidade em nossos portos e aeroportos; 
  • os problemas de engenharia na maioria dos nossos portos, o que impossibilita o atracamento de navios de grande porte, dado que muitos dos portos brasileiros são considerados rasos demais, exceção ao Porto de Santos cuja profundidade do canal já atinge 15 metros; 
  • estrutura aeroportuária defasada com falta de aeroportos de grande porte e a impossibilidade em se ampliar a maioria dos aeroportos já existentes, vide o exemplo de Guarulhos e Congonhas em São Paulo e o recente caso do acidente em Viracopos em Campinas que gerou um apagão aéreo, comprometendo principalmente as operações da empresa AZUL; 
  • a falta de incentivo em se edificar portos secos, o que poderia desafogar os portos litorâneos e principalmente ampliar a estrutura logística e de circulação de mercadorias no país; a enorme dependência do transporte terrestre feito por caminhões; 
  • a falta de estímulo à construção de ferrovias; 
  • a incapacidade no aproveitamento dos rios, mapeando hidrovias para auxiliar no escoamento da produção.

Enfim, todos esses “Gargalos Logísticos” existentes no Brasil torna ainda vigente o pensamento de Helmut von Moltke16

 

Ganha a guerra quem mobiliza primeiro e não quem dá o primeiro tiro”.


Mensagem final acerca da necessidade de uma Logística Nacional eficiente

Querer a paz é prevenir a guerra. E esta, modernamente, não é uma expectativa abstrata, mas um conjunto prático de recursos definidos, hipóteses previstas e planos estudados” (Rui Barbosa)17.


Referências


ANTUNES, Cel R1 Paulo Roberto. Palestra “Mobilização na Expressão Científica, Tecnológica e Inovação” proferida no Curso de Logística e Mobilização Nacional (CLMN/2012), ESG, 10 set. 2012.

BRASIL. Constituição Federal.

BRASIL. Lei 11.631, de 27 de dezembro de 2007. Dispõe sobre a Mobilização Nacional e cria o Sistema Nacional de Mobilização – SINAMOB.

BRASIL. Decreto nº 6703, de 18 de dezembro de 2008. Aprova a Estratégia Nacional de Defesa.

BRASIL. Ministério da Defesa. Livro Branco da Defesa Nacional.

HECK, Prof. MSC Gustavo Alberto Trompowski. Palestra “O Mundo em Crise” proferida no Curso de Logística e Mobilização Nacional (CLMN/2012), ESG, 17 out. 2012.

TEIXEIRA, Profª Maria Leonor da Silva. Palestra “Função Logística Transportes” proferida no Curso de Logística e Mobilização Nacional (CLMN/2012). ESG, 04 set. 2012.

VIDEIRA, Cel Int R1 Aer Antônio Celente. Palestra “Mobilização na Expressão Psicossocial do Poder Nacional” proferida no Curso de Logística e Mobilização Nacional (CLMN/2012). ESG, 06 set. 2012.


Referências de website

http://pt.wikipedia.org/wiki/commodity

http://pt.wikipedia.org/wiki/Helmuth_von_Moltke

http://www.antt.gov.br/index.php/content/view/11096.html#lista

http://www.camara.gov.br/internet/agencia/pdf/LIVRO_BRANCO.pdf

http://www.casaruibarbosa.gov.br/scripts/scripts/rui/mostrafrasesrui.idc?CodFrase=1035.

http://www.cnt.org.br/Paginas/Boletins_Detalhes.aspx?b=3

http://www.fab.mil.br/portal/defesa/estrategia_defesa_nacional_portugues.pdf

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12379.htm.

NOTAS:

1 Commodity: Bem fungível equivalente e trocável por outro independentemente de quem o produz, cujo preço é determinado em função do seu mercado no todo. Disponível em HTTP://pt.wikipedia.org/wiki/commodity

2 Estratégia Nacional de Defesa (Decreto nº 6703, de 18/12/2008, artigo 22, parágrafo 1º). Disponível em http://www.fab.mil.br/portal/defesa/estrategia_defesa_nacional_portugues.pdf

3 Livro Branco da Defesa Nacional, pág. 187. Disponível em http://www.camara.gov.br/internet/agencia/pdf/LIVRO_BRANCO.pdf

4 SIPRI é um instituto internacional independente dedicado à pesquisa em conflito, armamentos, controle de armas e desarmamento (Stockholm International Peace Research Institute).

5 CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

8 TKU – Tonelada transportada por quilômetro útil

10 Fonte: Anuário de Infraestrutura. Revista Exame 2005/2006

12 Fonte: MDIC- Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

14 ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres


terça-feira, 9 de junho de 2020

UM POEMA VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS


(Carlos Drummond de Andrade, 31/10/1902 - 17/08/1987)


Quadrilha

(Poema publicado em 1930 em sua primeira obra Alguma Poesia)


João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.



Minhas impressões sobre esse lindo e instigante poema:

Um poema vale mais que mil palavras, e vou provar o porquê!


Não interessa quantas palavras o poema tenha. O que interessa é o valor de cada palavra no poema, porque, embora ele use palavras, o poema não fala o que as palavras dizem. O poema faz as palavras dizerem o que o poeta quer dizer. 


Todo poeta é um alquimista de palavras!


Analisemos, por exemplo, as palavras do grande poeta Carlos Drummond de Andrade, em seu poema denominado “Quadrilha”: o que esse poema diz para você? Eu não sei o que esse poema diz para você, mas, para mim, o poema fala muito sobre o amor.


Vejamos apenas três pontos que me chamaram atenção nesse belo poema:


1. O amor nem sempre é biunívoco, pois ele pode não ser correspondido, claro! Então vem a pergunta: O que é o amor não correspondido? Respondo: é o fake news do amor, pois representa a completa alienação da felicidade própria. O amor verdadeiro não se pergunta sobre o retorno, o amor verdadeiro não necessita de correspondência, ele não precisa de espelho, o amor verdadeiro é gratuito e incondicional. O amor verdadeiro simplesmente ama, ponto.


2. As pessoas se amam, sim, isso é verdade. Mas, muitas vezes, ao amar, as pessoas se confundem sobre o que é o amor. Quem ama não foge, como João; não se enclausura, como Tereza; não se mata num desastre, como Raimundo; e nem se desilude e fecha o coração, como Maria. Quem ama verdadeiramente enfrenta os desafios, encara as dores que vierem, não morre, mas fica vivo para amar mais; quem ama, verdadeiramente, deixa o coração oxigenar, pois abre as portas e janelas da vida para novas chances e oportunidades. O amor é vida, o amor é alegria, o amor é luta diária de autoafirmação e consciência de si; o amor não é sofrimento, não é dor e não é alienação! Ninguém é capaz de amar verdadeiramente o outro se não for capaz de amar a si próprio, em primeiro lugar! Somente quem experimenta o amor verdadeiro é capaz de distribuí-lo! Na verdade, a essência do amor é distribuição!


3. No poema, o poeta não fala do amor antes de João, sequer do amor inexistente de Lili. No entanto, esta se casou, aquele fugiu! Ora, quem ama verdadeiramente não foge, e quem se casa nem sempre é por amor! Qual amado teria um nome tão parecido com a insígnia de uma empresa “J. Pinto Fernandes”? Será que Lili se casou com “José”, com “João” ou talvez com o próprio “Joaquim”, cujo sobrenome era “Pinto Fernandes”, mas que depois descobriu o amor não correspondido de Lili e, por isso, se matou?


Bom, tratei apenas três pontos acerca do que me impressionou esse lindo e instigante poema do grande poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade. E só por isso já se foram mais de quinhentas palavras e mais de três mil caracteres!


Imagine tantas outras impressões e interpretações possíveis que um poema, como esse, pode ocasionar nas pessoas!


Portanto, está provado: um poema vale mais que mil palavras!